20 de maio de 2013

Papisa joana

Altora: Donna Woolfolk c.
5 estrelinhas 

Em uma época onde o pensamento lógico era tido como ilógico e a fé como única fonte certa de sabedoria; onde a palavra mesmo que exata de cientistas, filósofos e pensadores pagãos era tida por diabólica e inválida e, a mulher tratada como um ser sem alma, destinada a passar vida tratada como um trapo, ou como uma criança sem controle sobre si. Uma era onde a ignorância imperava e apenas o clero tinha direito a educação, ainda que poucos destes fossem letrados. Em plena Idade das Trevas, nasce uma mulher, destinada a ser grande, Joana de Ingelheim, luta contra todos os costumes de sua época; uma erudita mulher que herda o Trono de São Pedro, o mais alto cargo da Igreja Católica, o mais poderoso e antigo de todos os tempos, fonte de disputas políticas. João Ânglico, ou Papa João VIII, como era chamada Joana, mudou não somente a face, mas muitos dos dogmas da Igreja e operou o que podemos chamar de uma revolução do pensamento cristão.

No mesmo dia em que morreu Carlos Magno, em 28 de janeiro de 814, nasce no povoado de Ingelheim, uma criança do sexo feminino, filha de um cônego e uma mulher pagã; seu nome era Joana. Desde muito cedo Joana mostrava ser dotada de um grande intelecto, uma inteligência sem par, que com exceção do perverso cônego, era percebida por seus dois irmãos: Mateus – o mais velho – e João – o do meio. Nossa protagonista consegue que seu irmão Mateus a ensine a escrever e, mais tarde a ler, tudo às esconsas para não serem descobertos pelo colérico pai.

Mateus morre e o cônego, então, ordena que João siga os estudos, embora sendo este burro e incapaz de aprender, ao contrário de Joana que tenta se oferecer para prosseguir no lugar no irmão falecido, mas em resposta recebe uma violenta agressão.

O tempo passa e, em determinado dia um convidado do cônego, um padre grego de nome Asclépio, após descobrir o talento de Joana, decide educá-la. O cônego a principio se opõem inflexivelmente, mas por fim consente sobre a condição do filho João também ser educado. Asclépio reconhece que João não tem talento, mas para poder lecionar à Joana acaba por assentir.

Decorridos dois anos, Asclépio volta à Constantinopla, mas assegura a Joana que dará um jeito para que ela prossiga seus estudos, antes de partir a presenteia com um livro de Homero, o qual ela guarda em segredo. Um dia seu pai a encontra lendo durante a noite, escondida, o tal livro. Cego de cólera acusa Joana de bruxaria. Quando desfeito o mal entendido, como punição ele a faz apagar todo o livro para reutilizar o pergaminho, mas ela se recusa é açoitada terrivelmente. O cônego quase a mata.

Depois de certo tempo, surgem emissários do bispo de Dorstadt, convocando Joana para estudar na escola da catedral. O cônego diz tratar-se de um engano de escrita e, ao invés de Johanna, ser Johannes, seu filho. Joana foge na calada da noite e vai estudar em Dorstadt.

Durante o tempo que lá permaneceu ficou alojada à casa do conde Gerold e sua família. Joana passa por incontáveis humilhações na escola. E, um dia, Richeld, mulher de Gerold, enciumada pelo afeto de ambos, decide casá-la a força, obrigando-a a parar com os estudos. No dia do casamento, a igreja é atacada por nórdicos, e a população da cidade chacinada. Joana sobrevive, decide então passar-se pelo irmão morto – João – e, ir para o monastério de Fulda. Gerold estava numa campanha do imperador, longe de Dorstadt.

Passam os anos e Joana, agora João Ânglico, torna-se um monge notável, um excelente médico. Joana aproveitou sua nova identidade sem as privações de outrora e expande seus conhecimentos, tornando-se uma célebre erudita. Um dia, recebe a notícia que seu pai a estava esperando – viera visitá-la, ou melhor, a João. Ela reluta, mas caba indo encontrar o pai. Disfarçando a voz e embuçando-se, ela dialoga com ele, reporta o acontecido e recebe o relato da morte trágica de sua mãe ao dar a luz. O cônego exora que ela interceda por ele junto ao Rabino de Fulda para que ele vá à missão de converter fiéis à saxônia; ao agarrar-se nela para implorar, ambos caem no chão e ele vê que João é na verdade Joana. Praguejando-a, ele dirige-se à porta para relatar o fato. Seria o fim de Joana se fosse descoberta. Um magote de monges se reúne ao pátio, mas quando o cônego tenta falar, morre vítima de um enfarto.

Joana a certa altura é acometida de uma peste, cujo tratamento no monastério de Fulda exigia que ela fosse despida e coberta por um lençol encharcado de água. Para fugir ao tratamento e não ser descoberta, Joana foge num barco, no qual, após entrar acaba desmaiando. Acorda em uma casa, despida das vestes de sacerdote e trajada como mulher. Apavora-se. Para sua sorte, estava na casa de Arn, a cuja família ela ajudara no passado, como monge. Ele e a família prometem guardar segredo, e ajudam Joana, novamente trajada de João, a fugir para Roma. Antes de partir, entrega à filha de Arn, Arnalda, um medalhão de madeira, feito por seu irmão Mateus, com a imagem de Santa Catarina e, pede para que a menina receba instrução.

Em Roma, João Ânglico se destaca pelas habilidades médicas e, é chamado para tratar do Papa Sérgio II. Joana permanece como médica da Casa Papal até a ascensão de Leão IV ao Trono de São Pedro. A essa altura já havia reencontrado a Gerold e, sido elevada ao cargo de nomenclator da Casa Papal.

Após a morte de Leão IV, Joana que já era muito popular entre os fiéis, é aclamada Papa. Passa por inúmeros conflitos de ordem política com os demais bispos e seu arquirrival, o terrível bispo Arsênio, cujo interesse era assumir o Trono Papal a qualquer custo.

Joana causa muita polêmica entre o clero ao criar uma escola para meninas e, ao interagir diretamente com a população romana, inclusive pelo fato de agir sempre de maneira lógica, racional, deixando de lado os dogmas da Igreja.

Joana acaba por engravidar de Gerold, que ao saber da notícia pede que ela fuja com ele, para viverem como pessoas normais, longe de Roma, afinal, ninguém sabia que o Papa João VIII era na verdade Joana de Ingelheim.

Ela pede que ele aguarde até o fim da Páscoa.

Arsênio, de volta a cidade sob proteção do imperador Lotário, trama a queda de Joana e, a toma do Trono Papal pelo emprego da força e a proteção de Lotário. 

Durante uma procissão, um grupo de arruaceiros, em meio à multidão que ovacionava Joana, começou a atirar pedras no cavalo da papisa, Gerold sai em captura deles, mas é pego numa emboscada por vários homens. Ele luta com garra, mas acaba sendo morto. Joana percebe o ocorrido.  Sentindo fortes dores, ele apeia, e se dirige ao local onde jazia o corpo inerte de Gerold; ela tenta salvá-lo, mas já era tarde. Arruma o cadáver para que seja transladado à igreja para ter um enterro digno.

Joana, de repende, sente dores ainda mais fortes, tonteia e cai no chão. A multidão se alvoroça e os guardas têm de intervir. Joana percebe que estava a conceber quando sente uma poça de sangue sob ela. Alguns padres gritam que o Papa estava possuído. Mas quando veem uma criança emergir, percebem que o papa era uma mulher. Joana no parto, assim qual a criança, acaba por morrer.

Seu papado foi anulado. Arsênio tomou o trono de São Pedro com apoio do imperador, mas não conseguiu reinar. Uma revolta popular se instaurou, Lotário percebendo que também perderia sua popularidade ao apoiar o antipapa Arsênio, retira sua proteção. Ele é destituído e Bento II eleito papa.

Muitos anos depois, na casa dos oitenta anos, Arsênio encontra um jeito de se vingar de sua maior inimiga: Joana. Ele escreve o Liber pontificalis, uma crônica de todos os papas, todos, exceto Joana.

O bispo Arnaldo da catedral de Paris fica encantado e pede para duplicar o livro e, o faz pessoalmente. A cópia ficou perfeitamente fidedigna, exceto por uma coisa: Arnaldo adicionou o papado de Joana. O que o motivou? Um sentimento de débito, talvez. Já que bispo Arnaldo era, na verdade, Arnalda, filha de Arn, a quem Joana ajudara. A cópia foi arquivada na biblioteca da catedral, na esperança de alguém, algum dia, o encontre e descubra toda a verdade sobre a existência de uma Papisa.

Se Joana realmente existiu, não se sabe ao certo. Nada relativo ao século IX é preciso, haja vista que muita coisa era manipulada, extraviada. Segundo Donna, há provas de que Joana existiu, dentre elas muitos costumes que foram alterados com relação ao pontificado depois de 855, quando Joana morreu, o argumento mais forte sobre sua existência, seja talvez, uma nota escrita em 1486, pelo bispo de Horta João Buckardt, em seu diário na qual diz:

Tanto na ida quanto na volta, [o papa] passou pelo Coliseu e por aquela rua reta onde [...] João Ânglico deu à luz uma criança [...] Por essa razão [...] os papas, em suas cavalgadas, nunca passam por essa rua; o papa foi destarte censurado pelo arcebispo de Florença, pelo bispo de Massano, e por Hugo de Bencii, o subdiácono apostólico [...] (parte da nota da autora, extraído do próprio livro, página 487).

Papisa Joana é um romance encantador, a história de uma mulher forte, destemida, metódica, pragmática, erudita que lutou contra toda uma sociedade e contra si mesma em busca de realizar o seu grande sonho. Recomendo esta obra a todas as pessoas que apreciam uma boa literatura, que encanta, fascina, faz com que o leitor mergulhe na história, ou seja, que envolve.

Galera eu me surpreendido com o livro simplesmente amei ,a Donna e muito realista e bem detalhista e sabe escrever uma historia simplesmente boa de se ler e de se emocionar gostei bastante do romance com limitações ,sim vale apena ler e assistir ao filme os dois são fantástico




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